O ET e EU...

Já postei sobre isso e sinceramente, não acho que o “acontecimento acontecido” merecesse outra postagem, mas a única forma da indignação passar é desabafar.

Guaíra é uma cidade pequena do interior do Paraná, todos se conhecem e sendo eu professora, muitos sabem de mim (embora eu não saiba deles). Desde que comecei a quimio,minha imunidade que já não era uma beleza, não me permite lugares com muita gente. Domingo está longe de ser meu dia prefeiro, mas hoje acordei animada e jurei ir até na missa (a última vez que fui, gripei por 15 dias), e concordei em ir com as crianças as marinas, espécie de parque na beiro do Rio Paraná onde acontecia um Campeonato de Pesca, meia cidade estava lá, não que houvesse algo a fazer lá, além de ver os barcos chegando com os peixes, mas pura e simplesmente porque não há laser nesta cidade, e era um acontecimento o tal campeonato.

Estes dia a Cris, do blog Minha História escreveu sobre olhares, ela me contou que saiu com a careca ao vento e dois homens perguntaram entre si, “aquilo” é um homem ou uma mulher? Isto ficou martelando na minha cabeça. Embora calor, eu respeitei a dificuldade que as pessoas teem em defrontar com uma pessoa com câncer, escondi a careca com um lenço e andava orgulhosa com meus filhos. Notei que não havia mais ninguém lá como eu, imediatamente pensei no que Bibi sempre diz, as pessoas se entregam, nós não amiga, nós queremos mais é viver. Me senti um E.T. O que mais me aborreceu foram os olhares, algumas pessoas sorriam pra mim, umas felizes por me ver, outras surpresas (você não morreu ainda?), outras demoravam a me reconhecer, não sei se devido ao novo corte de cabelo ou a forma oval que adquiri rsrsrs. Isso até relevo, eu mesma me esforço para me reconhecer, o que me chateia, o que me deixa com raiva, são os cochichos:

Eu tô muito mais bonita que o ET,
já tenho até sobrancelhas.

_ Olha a profe... Nossa!!! O que ela tem?

_ Diz que ela está com câncer. Tadinha...

E tem os que não te conhecem e acham que você está fazendo estilo, com aquele calor infernal. Os que puxam os filhos correndo, não sabem que Ca não é contagioso? O que tem aquela mulher mamãe... Juro que eu quase me dirigi à distinta pessoa e disse, esta mulher TEVE câncer de mama e está muito bem obrigada. Contagioso é o baixo astral, a desumanidade, a falta de sensibilidade em ver através do lenço, da careca, do corpo mutilado.Como se eu fosse culpada, só não sei do que...

Contagiei. Confesso. Não preciso da pena de ninguém,do asno, do medo.Preciso do sorriso sincero de quem fica feliz em me ver vivendo, do abraço de quem sentiu minha falta, do thauzinho radiante de meus aluninhos que não estranham nada em mim, do amor de Deus que me fortalece e que me faz superar essa pequenez.

Eu não fisso nada, eu juro!!!

Esse desabafo é só um desabafo. Quem sabe até sirva de alerta ao humano sem o olhar humano divino. Vou terminar meu domingo indo à missa, tomara que as bactérias não tenham a mesma idéia, vou rezar e agradecer o que Deus tem feito por mim, como Ele tem encaminhado as coisas, colocando-as da maneira que tem que ser.

Vou pedir paciência a Ele para que eu  possa esperar os planos que Ele fez a mim e acima de tudo que não me deixe desanimar,como diz a música...( ...) eu não vim até aqui, pra desistir agora...

Obrigada, meninas e meninos por me ouvirem e me verem como sou. Não o que minha aparência supõe te dizer...