sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vamos falar de sexo?




A mastectomia remove, parcial ou totalmente, uma das mais importantes zonas erógenas do corpo da mulher, o principal símbolo de feminilidade. Além disso, a quimioterapia sabota temporariamente não só o bem-estar, mas também a libido e a vaidade feminina. Como fica a sexualidade dessas mulheres? E as relações sexuais com seus parceiros depois do tratamento? Como reagem os homens a esse evento tão marcante na vida do casal?

“Há muita desinformação entre as pacientes sobre as consequências do tratamento do câncer de mama. A sexualidade não faz parte do currículo dos cursos na área de saúde. Logo, o assunto dificilmente é abordado pelos profissionais”, diz a enfermeira Clícia Valim Côrtes Gradim, professora da Universidade Federal de Alfenas, que defendeu sua tese de doutorado sobre o tema em 2005.

O assunto é relativamente novo, mesmo no meio acadêmico. Nesse estudo qualitativo, realizado na Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, no interior do Estado, Clícia entrevistou nove casais que vivenciaram o câncer de mama para entender como eles enfrentaram esse momento e verificar o seu impacto na vida sexual. A seguir, os principais trechos da entrevista com a pesquisadora.

A MAMA COMO SÍMBOLO
As mamas são a parte do corpo que nos define como mulher. Isso faz parte da cultura; assim fomos criadas. O primeiro sutiã, um rito típico da adolescência, é um bom exemplo. Já para os homens, o símbolo da virilidade é a genitália; eles valorizam o pênis propriamente dito. No estudo, a mama afetada não deixou de ser tocada durante o sexo, embora a preferência tenha sido pela mama saudável. Isso talvez explique por que os maridos não deixaram de desejar sexualmente sua esposa, apesar da doença e do tratamento.

ABALO NA RELAÇÃO
O principal temor de uma mulher diagnosticada com câncer de mama obviamente é a morte. Depois vem o estigma segundo o qual ela, se sobreviver, se tornará menos feminina e atraente para seu parceiro ou não será capaz de ter a mesma vida sexual que tinha antes da doença. A forma como o casal vai lidar com isso depende muito da história do relacionamento.

Se a união já vinha mal, é mais difícil. No estudo, todos os casais haviam construído uma relação saudável, de confiança e companheirismo, o que obviamente não significa que não tivessem problemas, mas, enfim, estavam satisfeitos com a vida a dois. Talvez por isso estivessem dispostos a falar sobre o assunto.

Nesse sentido, há um viés no estudo, pois provavelmente os casais com relação conflituosa não se sentiram à vontade para participar da pesquisa. Nos casais entrevistados, portanto, observamos que todos, aos poucos, enfrentaram cada dificuldade, desfazendo preconceitos, até finalmente retomarem a vida sexual.

DERRUBANDO MITOS
Quase todo mundo já ouviu falar de histórias de abandono da esposa pelo marido depois que ela foi diagnosticada com câncer de mama. Obviamente não observamos isso, porque os casais entrevistados tinham um relacionamento bem construído. Ao contrário, todos condenaram os homens que agem dessa maneira.

Além disso, percebemos uma participação muito ativa dos maridos nos cuidados durante tratamento, e que só não foi maior porque as próprias mulheres não permitiram. De forma geral, eles não as acompanhavam nas sessões de quimioterapia, por exemplo, porque na visão delas eles deveriam se preocupar com o trabalho. De qualquer forma, todos foram bons motoristas, disponíveis para levá-las e trazê-las sempre que preciso.

Outra ideia muito difundida é a de que a mulher mastectomizada tem vergonha de ficar nua diante do parceiro. Isso não ocorreu a nenhum dos casais, talvez porque a nudez já fosse uma prática corriqueira antes da doença e os maridos participaram de perto dos cuidados do corpo da parceira.

A FALTA DE DESEJO
O tratamento do câncer de mama geralmente dura de seis a nove meses, o que significa uma pausa na vida sexual do casal. Mas a pior fase é sem dúvida a quimioterapia, não só pelo sofrimento físico com os efeitos colaterais, mas também pelo impacto psicológico.

É o momento em que a mulher realmente demonstra estar doente, muito mais que depois da cirurgia. A queda dos cabelos, tão importantes na vaidade feminina, afeta seriamente a autoestima. A quimioterapia provoca a diminuição da libido, o ressecamento vaginal e a interrupção da menstruação, o que leva a uma pausa ou a uma diminuição das relações sexuais. Entretanto, os casais paulatinamente foram discutindo suas angústias conforme suas necessidades e o relacionamento preexistente.

O RETORNO À VIDA SEXUAL
Com o passar do tempo, os casais encontraram seu caminho de volta à vida sexual ativa, muitas vezes utilizando certas estratégias para contornar algumas dificuldades iniciais. Uma delas foi a alteração da posição do ato sexual, para evitar a pressão no braço do lado da mama operada, que fica muito sensível depois da cirurgia e requer diversos cuidados.

Géis lubrificantes, preservativos lubrificados e filmes pornográficos surgiram como alternativas para estimular o desejo sexual e diminuir o desconforto causado pelo ressecamento. O importante é que os homens não perderam o desejo por sua companheira, o que facilitou a espera e o estímulo ao retorno sexual.

GRUPOS DE AJUDA
Há muita desinformação entre as pacientes sobre as consequências do tratamento do câncer de mama, tanto na área da sexualidade como nos cuidados de um modo geral. A sexualidade não está no currículo das escolas de saúde. Logo, o assunto dificilmente é abordado pelos profissionais. Eles sabem tudo sobre as técnicas do tratamento, mas e depois que a paciente vai para casa?

Isso alimenta muitas dúvidas na mulher e também no homem. Grupos de apoio à mulher com câncer de mama, mais comuns em centros de referência oncológica, oferecem a assistência de enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas para discutir essas questões e podem ajudar os casais a retomar plenamente sua vida sexual.


fonte; http://www.mulherconsciente.com.br/Viva-Bem/detalhe.aspx?id=14

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